DANIELA MAURA
( Brasil - SÃO PAULO )
Daniela Maura, São José do Rio Preto – SP, pesquisadora livre com interesse nos processos de criação artísticos, nos modos de aprender e ensinar e nos modos de integrar pensamento visual e verbal na construção do conhecimento.
BABEL POETICA. Ano I no. 4. agosto/setembro 2011. Tradução e crítica. Santos, SP, 2011. 64 p. ISSN 2179-3662.
Ex. bibl. de Antonio Miranda
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o que carrego dentro não tem nome
não consigo sequer fixar dele uma forma
sei que é homem, escuro, informe e pulsante
não sei se sombra ou fosso
sinto dentro migrando do peito ao estômago
e às vezes fora me perseguindo com em
tempestade
pulsa como um corpo insano aprisionado em um
casulo preto, de malha que cede a todo movimento
constante como em uma luta com o espaço vazio
outras vezes é tudo isso mas feito fumaça
3
uma máscara poço
bem no fundo da máscara um espelho reflete um
pequeno pedaço de gelatina de céu e nele não
encontro os meus olhos
nesse chão enterrei memórias guardadas
em caixas de todas as formas cada uma em
profundidade diferente
sobre algumas nenhuma planta nasceu
uma delas virou semente um grande pé de
esquecimento
em outra o caule pensou ser raiz
as arestas de algumas caixas ferem o escuro
estou à procura das caixas
ao revolver toda a terra reconfiguro uma nova face
a primeira face azul do céu
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Um buraco do tamanho de um punho em minha
coxa
Aberto como uma toca
Procuro o osso que deveria estar ali, só há uma
parede lisa, úmida e
rosa guardando um ar frio
Tento com minha mão larga preencher esse vazio
Como se pudesse colher o vazio como uma flor
e fechar a pele sem cicatrizes
A boca desse buraco arranha minha mão
Boca com pele bem acabada como enxoval
bordado com
renda e cabelos
*
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Página publicada em abril de 2023
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